A data de 26 de maio de 1999 é marcante para muitos torcedores do Manchester United. Foi nesta noite que gols no final da partida de Teddy Sheringham e Ole Gunnar Solskjær selaram a vitória por 2 a 1 na final da Champions League contra o Bayern de Munique. Para um fã búlgaro, a data também mudou sua vida para sempre, culminando em uma jornada extraordinária após sua morte nesta semana aos 62 anos.






A Origem de um Sonho Peculiar
Nascido Marin Zdravkov Levidzhov em Svishtov, na Bulgária, o jovem fã cresceu sonhando em mudar seu nome para Manchester United. Na Bulgária comunista, no entanto, adotar o nome de um clube de Futebol do ocidente capitalista era uma missão quase impossível e poderia ter levado à prisão. A queda do regime comunista e a virada histórica na final da Champions de 1999 aproximaram o fã de seu objetivo.
Marin, que herdou o amor pelo clube de seu pai, assistia à final de sua modesta casa quando o time inglês estava em desvantagem. Ele fez uma promessa: se o United virasse o jogo, ele faria de tudo para adotar o nome do seu time do coração. Quando o impossível aconteceu, com Gols no apagar das luzes, Marin decidiu que era hora de buscar seu sonho.
A Longa Batalha Legal
No dia seguinte à final, Marin procurou um advogado para formalizar seu pedido incomum. Assim, iniciou-se uma longa e árdua batalha legal. Trabalhando em empregos precários, Marin lutava para se sustentar, mas seu sonho se tornou uma obsessão. Ele se tornou o assunto da cidade e, posteriormente, uma sensação internacional. No entanto, 15 anos de batalhas judiciais e decisões desanimadoras ainda estavam por vir.
Inicialmente, seu pedido foi rejeitado por motivos de direitos autorais, pois o nome do clube era uma marca registrada global. Um juiz local permitiu que Marin mudasse seu primeiro nome para Manchester, mas proibiu o uso de “United” como sobrenome oficial. “Mas eu não quero ter o nome de uma cidade inglesa, quero usar o nome do meu clube de futebol favorito”, contestou Marin no tribunal, insistindo em sua luta.
Enquanto não estava nos tribunais, Marin dedicava tempo aos seus gatos, que ele amava tanto quanto os Red Devils. Ele os nomeava em homenagem a jogadores do United, como Rio e Rooney, tornando seus animais os felinos mais famosos da cidade. Seu gato favorito se chamava Beckham.
Marin obteve outro avanço judicial, sendo autorizado a adicionar “United” como um apelido oficial em seu documento de identidade. Contudo, ele não estava satisfeito. “Não vou parar até que meu nome completo seja Manchester United”, jurou. Sua história atraiu propostas comerciais, incluindo a produção de produtos licenciados sob seu novo nome. Apesar das dificuldades financeiras, ele rejeitou todas as ofertas, por não querer lucrar com o nome do seu clube amado, considerando-o sagrado.
O Legado de um Fã Dedicado
Em 2011, um documentário foi produzido sobre sua vida, e sua equipe de filmagem ajudou a realizar o sonho de Marin de visitar o Old Trafford. Lá, ele teve a oportunidade de conhecer Dimitar Berbatov, atacante búlgaro que jogava pelo United na época.
Três anos depois, Marin tatuou o escudo do United em sua testa como forma de protesto contra as decisões judiciais. Nos seus últimos anos, a batalha legal tornou-se cada vez mais difícil. Oportunidades de emprego eram escassas e ele perdeu sua mãe para a Covid-19. Mesmo assim, ele encontrou uma maneira: batizou-se em uma igreja ortodoxa sob o nome Manchester United Zdravkov Levidzhov. “Pelo menos Deus me conhecerá com meu nome verdadeiro”, costumava dizer.
Nesta segunda-feira, 13 de outubro, seu coração parou. Talvez agora, a alma inquieta de Manchester United possa, finalmente, encontrar a paz.



Fonte: The Guardian