Em um encontro que reuniu técnicos proeminentes do Futebol Espanhol, Marcelino García Toral, Eder Sarabia, Julián Calero e Pablo Hernández compartilharam reflexões profundas sobre suas trajetórias e o ofício de treinador. O evento, que marcou a abertura do VII Curso de Treinadores na Federação Valenciana de Futebol, destacou a importância da humildade, da atualização constante e da conexão com os jogadores.

Inícios e a persistência no futebol
A conversa girou em torno das memórias dos primórdios da carreira. Marcelino enfatizou a base que molda o profissional e a necessidade de lembrar das pessoas que foram fundamentais em momentos cruciais. “Sempre pensas que te queda poco, pero mientras que mantengas la ilusión, algo de tiempo quedará”, refletiu o experiente Treinador. Sarabia relembrou as condições limitadas de seu primeiro time, o Cruces, e a dedicação intensa em seus primeiros anos como Treinador, com apoio familiar e de figuras como José Manuel Llaneza e Quique Setién. Calero destacou a paixão e a gana demonstradas ao treinar jovens, citando sua etapa no Parla e a importância da gratidão. O estreante Pablo Hernández, agora técnico do Castellón após encerrar sua carreira como jogador, expressou surpresa com a rápida ascensão e a oportunidade de comandar o time de sua cidade natal, ressaltando a importância de ter vivido as dificuldades como atleta.

O papel e a relação do treinador com o jogador
O papel do treinador e a relação com os atletas foram temas centrais. Marcelino alertou sobre o perigo de se achar bom demais nas vitórias e a importância de aprender com as derrotas, embora ressalte que aprender com a derrota é o caminho para ser demitido. “Los entrenadores tenemos que alejarnos siempre de la derrota”, afirmou. Calero complementou, dizendo que a derrota precisa ser ‘mastigada’, enquanto a vitória deve ser bem encaminhada para ensinar. Sarabia compartilhou a visão de que o limite ao jogador pode ser prejudicial, defendendo que a ideia de jogo deve potencializar o atleta. Ele também mencionou ter aprendido muito com os erros de treinadores que teve como jogador.
No que diz respeito à relação com os jogadores, Calero, que também foi jogador, reconheceu o erro de tentar ser ‘amigo’ dos atletas, defendendo clareza e transparência. Ele ressaltou a necessidade de o treinador estar ciente de situações pessoais dos jogadores, como problemas familiares. Pablo Hernández, em sua experiência com o filial do Elche, focou em não limitar os jogadores, incentivando-os a tomar decisões em campo, com o treinador fornecendo as diretrizes gerais.
Ferramentas e atualização no futebol moderno
A discussão sobre as ferramentas modernas disponíveis para os treinadores evidenciou a diversidade de abordagens. Marcelino não vê distinção entre ‘velha e nova escola’, mas sim a importância da atualização constante. Ele destacou o privilégio de ter equipes de apoio, em contraste com seus inícios solitários. Para ele, as ferramentas analíticas aumentam as opções e diminuem os erros. Sarabia prioriza o vídeo para analisar o comportamento dos adversários em diferentes momentos do jogo e incentiva treinadores a se gravarem e aos treinos para melhorar a transmissão aos jogadores. Calero, por sua vez, alertou para que a intuição não seja substituída pelo dado, valorizando as ‘sensações’ e a capacidade de transmitir a mensagem chave aos jogadores, citando Mendilibar como exemplo. Pablo Hernández, vivenciando a evolução das ferramentas como jogador e agora treinador, concorda que os dados são importantes como apoio, mas a intuição e a sensação são fundamentais.
O evento reafirmou que, apesar das novas tecnologias, a essência do futebol reside na paixão, na dedicação e na capacidade de adaptação dos profissionais que moldam o esporte.
Fonte: AS España