Rafael Ratão, atacante brasileiro que vive grande fase no Japão, compartilhou detalhes de sua trajetória no futebol, incluindo Lutas contra a depressão, festas e o uso de álcool. O jogador, formado no São Paulo, admitiu que na Juventude não levava a sério a carreira, o que o levou a cometer atos de indisciplina.
O Início conturbado nas categorias de base
Nascido em Sumaré, Rafael Rogério da Silva deu seus primeiros passos no Futebol em escolinhas e foi aprovado nas categorias de base do São Paulo. Apesar do talento, o comportamento fora de campo era um grande obstáculo. “Eu não levei a sério. Tinha folga, IA para minha cidade, curtia o baile no domingo e tinha que voltar de madrugada”, relatou o jogador, que recebia ajuda de custo e, ao assinar o primeiro contrato, viu sua remuneração triplicar, o que, segundo ele, influenciou em sua conduta.
“Eu sempre perdia os treinos, porque ficava no baile funk até tarde, não conseguia acordar, ia bêbado. Minha mãe ia me buscar com cinto, me colocava no busão, e eu ia só com a bolsa e as roupas.”
Após ser dispensado do São Paulo, Ratão ficou sete meses sem clube, frequentando festas e chegando a trabalhar como servente de pedreiro. Uma oportunidade no Guarani foi fugaz, com o jogador abandonando o clube antes mesmo do fim dos testes. Mais tarde, com a confiança de Zé Sérgio, antigo jogador e técnico da base tricolor, ele chegou à Ponte Preta, onde, mesmo com potencial, seus problemas de comportamento se acentuaram no profissional.
“Aprontei demais lá na base, mas o pessoal segurava, porque eu tinha potencial. Eu pulava muro para jogar amador e pegar um dinheiro. Com 17 anos, estava jogando Série A e Sul-Americana, fazendo gol no Maracanã e no Pacaembu. Estava em evidência, renovei contrato e caí em erros.”
“Noitada, gostava de sair, beber, dançar, essa bagunça. A pessoa quer se livrar de problemas e vai para a festa, conhece pessoas erradas. Muitas coisas atraem, e eu caí no conto de fadas.”
A Virada de chave no exterior e o combate à depressão
A passagem pela Ponte Preta não foi o esperado e o jogador acumulou empréstimos. A mudança de mentalidade começou durante uma cessão ao Albirex Niigata, do Japão, onde recebeu conselhos de jogadores brasileiros como Cortez e Léo Silva. A virada mais significativa ocorreu no Zorya, da Ucrânia, em 2017, e posteriormente no Slovan Bratslávia, da Eslováquia, onde conquistou seus primeiros títulos.
No entanto, o bom momento esportivo coincidiu com dificuldades psicológicas. “Eu vi o nascimento da minha filha da concentração, porque não me deixaram ir ao Brasil: ‘Se você for, não volta mais’. Eu precisava do contrato para sobreviver, não tinha o que fazer. Vi minha filha nascendo pelo celular. Depois, minha esposa foi com minha filha para a Eslováquia, ficaram dois meses, foram embora, e eu fiquei dez meses sem vê-las. Fiquei sozinho por dez meses na pandemia.”
“A gente passou por um processo difícil e doloroso, porque ela (filha) não me conhecia muito, não tinha aquele apego com o pai. Tive que conquistar tudo. Foi difícil para mim e para minha esposa, que ficou sozinha com ela um tempo.”
O estopim para o início da depressão foi uma divergência com a diretoria do clube eslovaco sobre uma possível transferência. “Comecei com ansiedade, um início de depressão, e mandei minha esposa com minha filha para o Brasil. Eu estava em uma situação de pegar as malas, o contrato e ir embora. Eu não queria ficar, estava mal. Apareceu o Toulouse, ofereceu mais dinheiro para o clube, e eles cresceram o olho.”
Ratão optou pela França, onde se destacou e conquistou a Copa da França e a segunda divisão nacional, mantendo o tratamento psicológico. “Eu fazia psicólogo antes, mas nessa época eu foquei mais. Foi um processo muito importante para mim, porque são gatilhos que acabam acontecendo e você não entende. Uma tristeza de não querer conversar, desabafar, que vai guardando.” O jogador enfatiza a importância do acompanhamento contínuo: “Sou uma pessoa melhor, mas sigo fazendo psicólogo e vou fazer até onde eu conseguir. Hoje, tenho outra cabeça, mas tem que fazer, porque no futebol tem sempre pressão por resultados, e você tem que saber lidar com isso para desempenhar em campo.”
Transição para o Brasil e o sucesso no Japão
Após seu período na França, Ratão foi comprado pelo Bahia, onde atuou por um ano e meio. Em seguida, foi emprestado ao Japão no início de 2025, onde rapidamente se adaptou e se tornou um destaque, brigando pela artilharia do campeonato local.
“Primeira vez que têm vários brasileiros disputando artilharia. Está sendo bom, jogando em uma posição nova. Vim como camisa 9, me ligaram dizendo isso. Tem uma adaptação que não é fácil, é difícil fazer o que estou fazendo. Demoram um ou dois anos para adaptar, e eu consegui adaptar muito rápido. Acho que isso tem a ver com as dificuldades que eu tive antes, que me deram uma casca.”
“Tenho 18 gols na temporada, brigando pela artilharia do Japonês, mas estou feliz, contente, independentemente de terminar ou não como artilheiro. Espero fazer mais gols nas rodadas finais e, quem sabe, seguir mais tempo no Japão. Esposa e filhas adaptadas, fomos bem recebidos, estamos muito felizes. Uma mudança em que eu esperava ter mais dificuldades, mas foi muito tranquilo.”
Ao fazer um balanço de sua carreira, Ratão expressou profunda realização. “Nem sabia que eu tinha jogado em tudo isso de time (risos). Estou rodado, diferente dos normais. Não foi um processo fácil. Estou muito realizado, poderia terminar a carreira agora que ainda assim seria feliz. Eu tinha tudo para dar errado. Difícil você pegar um jogador que atuou por quase 20 times e ainda jogar uma liga francesa, ganhar títulos, jogando bem. Hoje, estou contente. Minha família está bem, consegui dar um futuro melhor para minha mãe. Ela não precisa trabalhar, mora em um apartamento que dei a ela, assim como meu pai. O intuito no início era dar um futuro melhor para a família, então não tem preço realizar isso.”
Fonte: Globo Esporte