O futebol brasileiro vive um debate acalorado sobre seu novo calendário. A questão central é se as recentes mudanças implementadas pela CBF são suficientes para elevar o nível da modalidade no país, ou se, ao contrário, elas representam um desserviço. A percepção inicial de muitos é que, se o futebol for visto apenas como um produto de entretenimento, as mudanças podem ter um impacto positivo. Contudo, se a ótica for a de uma modalidade esportiva séria e competitiva, as dúvidas persistem.

Calendário e preparação física: a eterna dicotomia
Há décadas, críticos apontam a falta de uma pré-temporada adequada como um dos principais entraves para o desenvolvimento físico e técnico dos atletas brasileiros. Diferente de outras potências mundiais, onde a preparação é priorizada, o futebol nacional frequentemente sacrifica esse período crucial em nome de um calendário apertado, repleto de torneios regionais, nacionais e internacionais. Essa sobrecarga leva a um alto índice de Lesões e a um desempenho aquém do esperado em competições de maior porte.
A comparação com outras áreas de performance, como o Cirque du Soleil, ilustra a importância da preparação. Artistas de renome dedicam semanas à imersão em atividades físicas para garantir apresentações de excelência ao longo do ano. Essa dedicação à base física é fundamental para a longevidade e o alto rendimento, algo que parece ser negligenciado no futebol brasileiro.
A Seleção Brasileira sub-20, por exemplo, apresentou um desempenho pífio no último Mundial da categoria, e as dificuldades nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026 reforçam a tese de que o futebol nacional perdeu sua capacidade de ser competitivo em nível global. A técnica apurada, que antes era um diferencial, hoje parece preferir os gramados mais bem tratados da Europa, enquanto a preparação física no Brasil segue defasada.

As novas regras e a crítica ao calendário estendido
A promessa de mudanças significativas no calendário brasileiro gerou expectativas, mas as primeiras impressões sobre a nova estrutura deixam margem para o ceticismo. A ideia de encurtar torneios regionais e esticar o Brasileirão de janeiro a dezembro, com uma pré-temporada reduzida a um fim de semana entre o Natal e o Réveillon, é vista por muitos como um retrocesso.
Críticos questionam se houve consulta a preparadores físicos e fisiologistas durante a elaboração dessas novas regras. A preocupação é que a busca por um calendário mais longo e, supostamente, mais atrativo para o mercado, resulte em ainda mais desgaste para os atletas, comprometendo a qualidade das atuações e a saúde dos jogadores. A falta de um período adequado para descanso e recuperação física pode perpetuar o ciclo de Lesões e a queda de rendimento em momentos decisivos.
O futebol, embora seja uma forma de arte e entretenimento, é primordialmente uma atividade esportiva de alta intensidade. Jogadores precisam estar em plenas condições físicas para suportar 90 minutos de esforço, com agilidade de raciocínio e reflexos apurados. Isso exige não apenas talento técnico, mas também uma base orgânica sólida, construída através de treinamento físico adequado e períodos de descanso merecidos. Sem esses pilares, o espetáculo corre o risco de se tornar medíocre.
A memória dos grandes times, como a Seleção de 1970, não deve ignorar o longo e árduo processo de preparação que levou aqueles atletas ao ápice. Para que o futebol brasileiro volte a encantar o mundo, é preciso resgatar a importância da preparação física, transformando jogadores em atletas de alta performance, capazes de entregar espetáculos de qualidade, fruto de muito suor e dedicação.
Fonte: LANCE!