Nepal busca ponto na Copa Asiática em meio a turbulência política

Técnico Matt Ross foca em um ponto na Copa Asiática com o Nepal, enquanto lida com desafios políticos e de infraestrutura no país.
Nepal Copa Asiática — foto ilustrativa Nepal Copa Asiática — foto ilustrativa

O Técnico australiano Matt Ross, que assumiu a seleção do Nepal no início do ano, sabia dos desafios que encontraria. O país asiático, famoso por suas montanhas, enfrenta dificuldades esportivas, incluindo a escassez de campos de Futebol. A principal competição nacional, a Nepal Super League, ocorre em um único local, o Dasharath Stadium, em Kathmandu.

Desafios Fora de Campo

Mais sérias que a infraestrutura precária, porém, foram as preocupações de Ross em setembro, quando protestos em massa tomaram as ruas do país. Uma proibição governamental de Redes Sociais, somada a frustrações com corrupção e falta de empregos, levou milhares de jovens às ruas em manifestações que se tornaram um movimento anticorrupção.

“Estávamos no ônibus para treinar, antes de um Amistoso contra Bangladesh, quando a polícia nos disse para não irmos ao Estádio”, relata Ross. “Vimos relatos de protestos, prédios incendiados, políticos sendo arrastados de suas casas. O hotel nos pediu para fechar as cortinas, mas olhei para fora e vi o prédio ao lado em chamas.”

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A situação escalou rapidamente, com o Ministério da Saúde do Nepal confirmando 72 mortos e mais de 2.100 feridos após a abertura de fogo pelas forças de Segurança. O jogo contra Bangladesh, que seria o segundo de uma rodada dupla após um empate sem gols em 6 de setembro, foi cancelado.

Gestão da Crise e Retorno

Ross precisou gerenciar uma situação delicada. Muitos jogadores da seleção nepalesa simpatizam com os manifestantes, mas alguns têm laços com a polícia e o exército, cujas ações foram criticadas por órgãos como a ONU e a Anistia Internacional. “O sobrinho do nosso roupeiro foi aos protestos; ele usava o uniforme da escola e foi baleado”, conta Ross. “Mesmo que o jogo tivesse acontecido, não estávamos em condição mental para jogar. É complexo. Estávamos cercados por fumaça, sirenes e gritos. Foi chocante, porque é o tipo de coisa que vemos na TV em outros lugares e, de repente, você está no meio disso, sentindo-se impotente.”

Seleção do Nepal em campo durante treino.
Matt Ross busca consolidar o futebol no Nepal.

Ross decidiu seguir com sua viagem à Europa, planejada antes dos eventos, mas manteve contato constante com jogadores e equipe técnica. “Me senti como um pai preocupado, pedindo para ligarem quando chegassem às famílias. Perguntando como os pais deles estavam, como estavam suas vilas. Muitos dos rapazes ainda estão, compreensivelmente, afetados”, confessa.

Ao retornar ao Nepal dez dias depois, Ross sentiu um renovado senso de propósito. Ele tem trabalhado incansavelmente para construir bases para o crescimento do futebol no país. Sua carreira como treinador tem sido focada no desenvolvimento, com passagens pelo futebol feminino e de base na Alemanha, além de experiências na China, Coreia do Sul, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. O Nepal representa sua primeira experiência com o futebol masculino profissional.

Visão de Futuro e Copa Asiática

“Não somos os número 175 do mundo à toa”, afirma Ross. “Estou aqui para ganhar jogos e mudar essa mentalidade. Há talento, com a bola nos pés eles são tão bons quanto os jogadores com quem já trabalhei. Falta a estrutura tática que um sistema de academia adequado proporciona e a mentalidade que vem com isso.” Ele busca ativamente oportunidades para jogadores nepaleses em ligas estrangeiras.

Jogadores da seleção do Nepal durante uma partida.
Foco na Copa Asiática é a prioridade.

O foco agora está nas eliminatórias para a Copa Asiática contra o Vietnã. Devido à instabilidade, os jogos foram transferidos para Ho Chi Minh City. O Nepal está na lanterna de um grupo que também conta com Malásia e Laos. Uma reclamação da Federação Nepalesa contra a Malásia pode mudar o panorama, após um jogador malaio ter sido considerado inelegível pela FIFA.

Com apenas o líder do grupo garantindo vaga na Copa Asiática de 2027, e o Vietnã possuindo maior tradição continental, um único ponto nos confrontos de outubro seria uma conquista significativa para o Nepal e seu treinador. “Há um grande senso de dever agora”, diz Ross. “Não se trata de pedir o apoio do país – precisamos dar algo a eles. Ninguém espera que façamos nada nesses dois jogos. Não é sobre tática ou até mesmo preparo físico; é sobre as emoções e o que estamos jogando. Preciso focar nisso para que possamos fazer algo mágico em uma ou ambas as partidas. Precisamos voltar para casa com algo.”

Vista panorâmica do Dasharath Stadium, em Kathmandu.
O Dasharath Stadium é o principal palco do futebol nepales.

Fonte: The Guardian

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