Método Fajardo: A Estrutura de Scouting que Revoluciona o Betis

Descubra o ‘método Fajardo’ do Betis: como a Direção Esportiva otimiza informações, expande o scouting global e toma decisões estratégicas para reforçar o time.
Direção Esportiva Betis — foto ilustrativa Direção Esportiva Betis — foto ilustrativa

O Betis implementou uma nova estrutura em sua Direção Esportiva há mais de um ano e meio, com Manu Fajardo como seu principal responsável. Nos últimos três mercados de transferências, o crescimento do clube evidencia o sucesso de seu método de trabalho, detalhado em recente Entrevista aos canais oficiais do clube.

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A equipe de Fajardo foca no contato diário, otimização de informações e na estruturação do departamento. Uma mudança crucial foi a de fazer com que os olheiros (scouts) deixassem de se concentrar em uma liga específica, passando a ter um conhecimento mais global do mercado. Essa organização, que distribui tarefas, rotas e agendas, visa maximizar o consenso na Contratação de jogadores e minimizar erros.

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“São diárias as reuniões entre Álvaro, Andrés e eu para tratar e definir distintas questões. Neste momento estamos trabalhando na folha de rota da Direção Esportiva nas três próximas semanas, quais partidas vamos visualizar in situ e é muito importante trabalhar com uma ordem, com as ideias claras, para poder otimizar recursos”, explicou Fajardo, que também destacou o trabalho em eventos como o Mundial Sub-20, onde duas pessoas foram enviadas, enquanto outras duas acompanhavam jogos na América do Sul.

Scouts do Betis Ampliam o Leque de Observação Global

A decisão de não atribuir ligas específicas aos olheiros é fundamental para Fajardo: “O que tentamos é que o scout da Direção Esportiva do Betis tenha um conhecimento muito amplo de todo o mercado. Não trabalhamos com ligas concretas, igual uma semana te toca a República Checa e dentro de duas semanas vais para o Brasil, para a Bélgica… Tentamos que quando cheguem os mercados e haja que tomar decisões os scouts possam valorar e tomar decisões, enriquecerem-os também a nível pessoal e profissional”.

A prioridade na busca por reforços é definida pelo desempenho dos jogadores atuais e pela data de término de seus contratos. “Definimos em função da prioridade que tenhamos em mercados vindouros, da situação contratual de um jogador, da sua valoração dentro do departamento… Estamos trabalhando agora mesmo a um nível muito alto, cada vez estamos mais perto da excelência que nos marcamos e que um clube como o Betis deve ter”, afirmou.

Relatórios Assinados: O Gatilho para a Máquina de Contratações

Os “relatórios assinados” referem-se aos jogadores que os olheiros identificam como alvos potenciais para o Betis. “Organizamos a tarefa de forma objetiva e subjetiva, por vezes os distintos fornecedores de dados que temos nos marcam que um jogador começa a destacar na Suécia, um central de 2006, que entra dentro do perfil que queremos, e rapidamente passa ao departamento de scout para que nos passe informação objetiva, e quando vemos que entram relatórios assinados, organizamos viagens e vamos contrastar que o que nos dão os scouts e o departamento de dados é correto. O nosso dia a dia é dinâmico, criativo, e tratamos de que os scouts sejam valentes, que não tenham medo à hora de realizar uma valoração independentemente da idade do jogador”.

Um exemplo prático é a busca por um lateral-esquerdo, posição que necessita de reforços com o fim do contrato de Ricardo Rodríguez. “Agora estamos a ver um perfil de lateral que marcava um dos scouts com muito bom critério e talvez nem precise de ser visto in situ, sente-se algo diferente quando se realiza a visualização mediante Wyscout. Há jogadores que sim necessitam de ser vistos um pouco mais em contextos mais exigidos, de local, de visitante, em competição europeia… É muito importante também o valor humano do jogador, conhecer o seu entorno, a fome que possa ter e a predisposição de vir ao Betis“, explicou.

A Perspectiva Pessoal do Jogador é Essencial

O aspecto pessoal do jogador, incluindo seu entorno e estilo de vida, também passa pelo crivo da Direção Esportiva. “Por muito nível que possa ter um jogador e bons que sejam os seus dados, se entendermos que não vai na linha do que temos no balneário não damos os passos necessários para levar a cabo a operação.”

Fajardo reforça a mudança metodológica: “Deixámos de acreditar que cada scout devia ter uma liga atribuída, que é o mais comum, repartimos tarefas semanalmente que nada têm a ver umas com as outras. Há semanas que atribuímos a cada scout uma bateria de 20 ou 25 jogadores, eles devem fazer um relatório individual concreto de cada jogador, damos-lhes um prazo de entrega, talvez na semana seguinte mandamos vê-la Libertadores, a outro o Mundial sub 20… Trocamos muito de relatório individual para campeonato com o objetivo de que cada scout tenha um conhecimento amplo de todos os mercados”.

Essa nova abordagem permitiu ao departamento esportivo do Betis melhorar significativamente: “O que detectamos agora é que controlamos muitíssima mais informação, que a ordenamos melhor, visualizar muitos jogos sem ordem de pouco me vale. Gosto de abrir o computador, sentar-me com Andrés e Álvaro, ter muito clara qual foi a tarefa de outubro, a de setembro, que cinco laterais esquerdos se marcaram como prioridade cada mês, que lateral repete em cada relatório, que perfis têm possibilidade de rendimento imediato para o próximo mercado, quais a médio prazo, em que situações de talento de segundas ligas podemos antecipar-nos à concorrência em condições vantajosas… Quando tudo isso entra na coctelera, falamos com Ramón e propomos o nome que deve vir para a entidade”.

Pellegrini Participa na Definição de Nomes-Chave

A informação coletada no dia a dia é, por vezes, compartilhada com Manuel Pellegrini, técnico da equipe, para que ele participe da avaliação de potenciais reforços. “Com Manuel a relação neste momento não é tão focada em mercado, mas sim hoje falávamos de um perfil concreto que me parece interessante, partilho com ele, ele vai vendo, dá-me feedback, a sua opinião, trabalhamos num clima extraordinário”.

Fajardo também destaca a coesão de sua equipe, composta por profissionais escolhidos a dedo, como o secretário técnico e o diretor de scouting. “A primeira decisão que tomei foi que me acompanhasse Álvaro e incorporar Andrés, de las primeiras pessoas que conheci no mundo do futebol, de máxima confiança, e depois o departamento foi crescendo com o denominador comum de que todos são béticos, são gente daqui, e temos uma mistura de gente com mais experiência como Merino e Cañas, lendas do Betis que levam anos aqui, Adri, que se incorporou do Mallorca e tinha experiência para tomar decisões em ligas que emergem, com talento, e uma camada de scouts jovens que vêm com sangue novo, energia, dinamismo e valentia. Há uma mistura muito bonita, o ambiente é magnífico, trabalham com liberdade, sentem-se importantes e são parte ativas das tarefas.”

Os Mais de 200 Voos Anuais de Ladrón de Guevara

Álvaro Ladrón de Guevara, secretário técnico, detalha a organização diária do departamento: “Organizamos uma série de rotas para que os scouts durante a semana ou o fim de semana vão ver partidas com objetivos específicos e vão ressaltando nomes que por posição e situação contratual sejam realistas para o Betis. Recopilamos esse trabalho num excel com os jogadores que entendemos que são interessantes. Quando um scout destaca um jogador, esse jogador não fica aí mas sim rapidamente, se foi marcado como a assinar, é passado a outro scout para que o veja. Quando são dois ‘a assinar’, aparece um alerta e vemos mais. Quando são mais, entramos Andrés, Manu e eu, fazemos visionamento direto, vamos vê-lo, e vamos colorindo o quadro, ressaltando uma série de nomes suscetíveis de ser adquiridos pelo Betis em próximos mercados. Nem toda a gente vê todos os jogadores, só os que há possibilidades reais de assinar”.

Um exemplo marcante foi a contratação do argentino Valentín Gómez no verão passado. “Há um caso curioso do verão passado, o de Valentín Gómez, um dos fichajes mais recentes que agora leva quatro partidas seguidas de titular a muito bom nível vindo de um contexto distinto. Quando fizemos a análise do jogador, com cada scout vendo-o e com o visionamento em direto, com Andrés, comigo, também foi Alexis, um dos nossos scouts, conhecendo um pouco o entorno do rapaz, houve um 100% de ‘a assinar’. Não é habitual, mas neste caso toda a Secretaria Técnica entendeu que Valentín era um jogador para assinar”.

Para o secretário técnico, “o bom é que vemos tantos perfis durante o ano que tens muito com o que comparar. Quando há tantas pessoas e todos coincidem em que encaixaria num contexto como o nosso dá-te tranquilidade”. A lista de nomes não para de crescer: “Nesse excel desta temporada há muitíssimos nomes e aparecem novos a cada mês. O mercado é muito dinâmico, jogadores que estão aí e nos convencem de repente deixam de ser possibilidades reais porque o seu valor de mercado aumenta exponencialmente e deixam de ser objetivo”.

Esse trabalho árduo o obriga a viajar constantemente para ver futebolistas: “Nunca fiz as contas, mas não sei, 200 voos por ano mais os que perdemos, não sei. Sevilha além inclui normalmente escala… Não sei, 200 ou 250 voos. Sabemos da responsabilidade que temos e tratamos de fazê-lo o melhor possível, errar o menos possível e que cada jogador que chegue seja o adequado, se adapte bem ao grupo que temos. A nível esportivo dê-nos um rendimento para ajudar-nos a ganhar partidas e no caso dos jovens, que nos ajude a crescer no futuro”.

Comunicação Diária e Fluida com os Olheiros

Por fim, Andrés Fernández, o chefe de scouting, foca-se na organização: “Tentamos levar o trabalho bastante organizado e planificar com tempo para que se possa ter tudo preparado para cada scout. Vamos recolhendo as rotas que vamos montando semanalmente. Tentamos que haja uma comunicação muito próxima, muito fluida, diária. Reunimo-nos a cada dia para tratar diferentes temas e estamos muito próximos dos scouts, interagimos com eles, independentemente dos seus relatórios na plataforma, vamos conversando para saber um pouco as suas valorações. Quando saem de viagem, à volta, além dos seus descansos, tentamos sentar-nos a falar de como foi a viagem, se tudo correu como se esperava a nível logístico e por suposto dos jogos que viram, independentemente dos relatórios, vamos fazendo-lhes perguntas de detalhes mais do jogador em concreto”.

Como exemplo, o Mundial Sub-20 do Chile: “Tivemos lá a dois companheiros a ver a primeira fase em direto. Quando vieram do Chile reunimo-nos para ver tudo o que tinham destacado, para ter essa informação de primeira mão, independentemente de que desde lá faziam relatórios e tínhamos contacto diário. Agora fazem um resumo do campeonato onde destacam por posições um onze ideal, um segundo onze, jogadores para rendimento imediato, outros de projeção a médio ou longo prazo, e organizamos toda a informação para a termos à mão quando for necessário”. Sem dúvida, uma complexa engrenagem que trabalha nas sombras durante todo o ano para que, quando o mercado se abrir, o Betis esteja preparado a 100%.

Fonte: Marca

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