O Futebol é um palco para superstições, e em Avellaneda, uma lenda tenta explicar o longo período de infortúnio do Racing Club. Após anos de glórias, o adversário do Flamengo na Libertadores enfrentou décadas sem conquistas, atribuídas por alguns a uma suposta maldição lançada sobre o clube no século passado.
Da glória ao mistério
No início do século 20, o Racing era sinônimo de excelência, conhecido como “La Academia”. O clube conquistou sete títulos argentinos consecutivos entre 1913 e 1919 e, em 1967, sagrou-se campeão mundial ao vencer o Celtic (Escócia) na Copa Intercontinental. Naquela época, a equipe acumulou uma invencibilidade de 39 jogos entre 1965 e 1966.
O sucesso da “Academia” despertou inveja, e a lenda da maldição teria surgido. Segundo relatos, torcedores rivais, com a ajuda de uma bruxa local e um vigia do Estádio “El Cilindro”, teriam invadido o local para enterrar sete gatos mortos sob o campo, seis debaixo de um dos gols e o sétimo em um ponto secreto, com o objetivo de amaldiçoar o clube. Acredita-se que este ritual ocorreu após a conquista da Copa Intercontinental em 1967.
Décadas de infortúnio
Após a suposta maldição, o Racing enfrentou um período de quase 35 anos sem títulos significativos. Enquanto isso, o arquirrival Independiente vivia sua “era de ouro”, conquistando quatro Copas Libertadores consecutivas entre 1972 e 1975. O rebaixamento para a segunda divisão em 1983, ironicamente contra o Independiente, marcou o ápice do sofrimento do clube.
Histórias sobre tentativas de quebrar a maldição circulam, incluindo a do técnico Juan Carlos Lorenzo, que teria ordenado a desenterrar os gatos em 1980, encontrando apenas seis. Outras versões falam de rituais de purificação com o enterro de sapos.
Fé e desespero
Em 1998, para combater a má fase, cerca de 15 mil torcedores participaram de uma procissão em Avellaneda, levando uma imagem da Virgem de Luján ao estádio “El Cilindro”. Uma missa foi celebrada no campo, com água benta sendo espalhada. O presidente Daniel Lalín descreveu o ato como um “gesto de fé”, enquanto o padre Jorge Della Barca afirmou que “a melhor bênção era simplesmente jogar bem futebol”.
O retorno da sorte
A situação financeira do clube se agravou, com pedido de falência em 1999. No entanto, a esperança ressurgiu com a chegada do técnico Reinaldo “Mostaza” Merlo. Acredita-se que o técnico tenha insistido na busca pelo sétimo gato. Durante reformas no estádio “El Cilindro”, uma área cimentada atrás do gol foi demolida, e ali, segundo a lenda, o gato desaparecido foi encontrado.
Com a possível quebra da maldição, o Racing finalmente voltou a ser campeão. Em 27 de dezembro de 2001, após 35 anos de jejum, o clube conquistou o Campeonato Argentino. Curiosamente, a famosa pizzaria “La Mufa” (que significa “má sorte”) em Avellaneda, localizada a 200 metros do estádio, também fechou as portas em 2001.
A história da maldição dos gatos continua a intrigar fãs e céticos. O “gol amaldiçoado” e a superstição em torno do Racing Club adicionam uma camada de misticismo ao confronto contra o Flamengo na Libertadores.
Fonte: Globo Esporte