Gerson Lopes, ex-Atacante mato-grossense, revelou detalhes de sua trajetória meteórica no futebol, que o levou do interior de Mato Grosso ao título brasileiro de 1980 com o Flamengo. O jogador relembrou o caminho improvável que o tirou dos campos de terra em Alto Paraguai para os holofotes do Maracanã.
As raízes no Operário VG e o salto meteórico
Natural de Alto Paraguai, Gerson iniciou sua carreira no futebol amador em Cuiabá. Antes de ser descoberto pelo Operário Várzea-grandense (CEOV), ele já se destacava como um meio-campista com faro de Gol. Aos 18 anos, Gerson já jogava entre os profissionais, sem ter passado por escolinhas de base estruturadas.
“Eu não tive escolinha, nossa família sempre unida, mas passava muitas dificuldades. Já fui do amador para o profissional direto, estadual e depois ao Brasileiro. Em um ano, eu estava no Operário, disputei dois estaduais e já estava no grande Flamengo“, relatou Gerson Lopes.
Sua passagem pelo Cacerense foi crucial, onde marcou 11 gols no campeonato estadual. O desempenho o levou de volta ao Operário e, subsequentemente, chamou a atenção nacional, abrindo portas para sua transferência ao clube carioca.
Gerson, apesar de sua baixa estatura (1,71m), possuía uma impulsão impressionante, sendo especialista em gols de cabeça e destacando-se pela velocidade.
“Meu treinador, seu Nivaldo Santana, me ensinou muito. Depois do treino, ele ficava comigo levantando bola para eu cabecear. Ele me ensinou a impulsão parada, a olhar o goleiro antes de cabecear. Isso fez a diferença”, recordou o jogador.
O dia em que o Globo Esporte anunciou: “Gerson Lopes vai para o Flamengo”
O acerto com o Flamengo foi selado de forma surpreendente. Enquanto Gerson treinava, a imprensa já noticiava sua contratação. O próprio jogador descobriu a novidade ao chegar em casa e encontrar a família agitada.
“Eu estava chegando do treino e vi um monte de gente na porta de casa. Todo mundo já sabia que eu ia para o Flamengo, só eu que não! Meu pai era vascaíno e ficou bravo. Dizia que preferia que eu fosse para o Vasco. Mas graças a Deus aconteceu, foi bom demais para minha carreira”, disse.
Chegada à Gávea e o encontro com Zico
A chegada à Gávea foi marcante. Gerson encontrou a sede do clube repleta de jornalistas cobrindo a renovação de contrato de Zico. O encontro com o ídolo se tornou uma memória inesquecível.
“Eu cheguei e estava cheio de repórter. Achei que fosse tudo para mim. Mas era o Zico renovando! Quando o repórter me apresentou, eu levantei para cumprimentar ele e… perdi a voz. Não consegui falar. Eu via o Zico só por rádio e revista. De repente, ele me abraçando. Foi uma emoção enorme”, relatou o ex-atacante.
Zico o recebeu calorosamente: “Seja bem-vindo. Pode ficar tranquilo que aqui você será muito bem recebido”, disse o camisa 10.
A estreia em Cuiabá e os três gols que fizeram história
Pouco tempo depois, Gerson teve a oportunidade de estrear pelo Flamengo em sua terra natal, Cuiabá, em um amistoso contra o Mixto. Escalado pelo técnico Cláudio Coutinho, ele marcou três gols, ofuscando o artilheiro Cláudio Adão, que também balançou as redes quatro vezes.
“O Coutinho falou: ‘Adão, o menino é da cidade dele, é festa, vou colocá-lo para jogar.’ O Adão não gostou. Disse que não aceitava. Mas o Coutinho manteve a decisão. Eu joguei e fiz três gols. O Zico fez quatro.”
O episódio gerou atrito com Cláudio Adão, que foi afastado do grupo. Anos depois, Adão brincou com Gerson sobre a situação: “O único jogador que me botou no banco foi esse aí, o Gerson.”
O sonho realizado: jogar no Maracanã com os ídolos
Gerson descreveu a emoção de atuar ao lado de craques como Zico, Júnior e Raul. Ele relembrou a ansiedade antes de um jogo contra o Atlético-MG, no Mineirão, diante de mais de 70 mil pessoas.
“Uma vez a gente tava concentrado para jogar contra o Atlético, no Mineirão, 72 mil pessoas. Eu belisquei o braço para ver se era verdade. Eu, que via Zico e companhia só no Canal 100, tava ali no mesmo time.”
“Tremia tudo. Aí o Júnior passou e falou: ‘Biro, fica tranquilo, está todo mundo aqui.’ Aí passou. E ainda fiz o primeiro gol do jogo. O Adílio fez o segundo. Ganhamos de 2 a 1″, relembrou Gerson.
Campeão brasileiro e acolhido pelos craques
O time do Flamengo em 1980 era recheado de estrelas, como Raul Plassmann, Leandro, Júnior, Andrade, Adílio e Zico. Gerson foi um dos destaques na conquista da Taça Guanabara e do Campeonato Brasileiro daquele ano.
“O Júnior e o Raul foram os que mais me acolheram. O Júnior me levava com ele nas lojas e dizia: ‘Escolhe o que quiser.’ O Raul fazia o mesmo com outra marca. Eu não gastava um cruzeiro. Eram como irmãos mais velhos”, declarou Gerson.
Carreira pelo Brasil e legado em Mato Grosso
Após o Flamengo, Gerson atuou por clubes como Goiás, Santo André, Caxias, Juventude e Ypiranga-RS. De volta ao Operário, tornou-se ídolo da torcida.
“Tudo o que conquistei começou aqui. O Operário foi meu primeiro amor no futebol. Mato Grosso é minha base, meu orgulho”, afirmou.
Gerson Lopes encerra sua história de vida no futebol com a gratidão por ter realizado seu sonho e deixado um legado em Mato Grosso.
Fonte: Globo Esporte