Emily Heaslip: De Jogadora a Árbitra, os Desafios da Arbitragem e o Combate ao Abuso

Emily Heaslip, árbitra da WSL e FIFA, fala sobre os desafios da arbitragem, o impacto do abuso online e a paixão pelo esporte.
Emily Heaslip arbitragem — foto ilustrativa Emily Heaslip arbitragem — foto ilustrativa

Ser árbitra de futebol é uma jornada desafiadora, que exige resiliência mental e física, comparável a modalidades extremas. A pressão e o escrutínio são constantes. Emily Heaslip, árbitra da Women’s Super League (WSL) e membro da lista internacional da FIFA, compartilhou sua experiência em uma conversa durante o Dia Mundial da Saúde Mental.

Da Paixão em Campo aos Campo de Jogo: A Transição para a Arbitragem

Emily Heaslip, agora em seu segundo ano como profissional em tempo integral, revelou que a transição para a Arbitragem não foi algo que ela planejou inicialmente. Jogadora de futebol, inclusive na segunda divisão inglesa com o Watford, Heaslip confessava que os árbitros eram, em sua visão, um incômodo. A ideia de que ela poderia fazer um trabalho melhor a motivou a explorar a área. Ao ser convidada para gerenciar uma equipe em um torneio entre diferentes partes interessadas no futebol, Heaslip teve a oportunidade de conversar com árbitras.

“Você tem que entrar na Arbitragem, é muito bom”, foi o conselho recebido. Heaslip, na época, pensava: “Os árbitros me incomodam e eles nem sabem o que é uma falta hoje em dia.” Pouco tempo depois, um curso de arbitragem exclusivo para mulheres em sua associação local a impulsionou a se inscrever, e o restante, como ela diz, é história.

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Emily Heaslip em uma caminhada com seu cachorro na praia.
Emily Heaslip, árbitra profissional, durante uma caminhada com seu cão.

O Vício da Arbitragem: Satisfação e Desafios Mentais

Para muitos, a ideia de trocar o papel de jogadora pela de árbitra pode parecer estranha. No entanto, Heaslip descreve a Arbitragem como algo “viciante”. A camaradagem entre os árbitros é um fator, mas o que realmente a atrai é o mistério de cada jogo. “A cada jogo, a cada 90 minutos, é um desconhecido. Então, há a satisfação que você obtém ao tomar as decisões certas”, explica.

Essa satisfação vem de um rigoroso processo de preparação. Além do condicionamento físico, os árbitros revisam lances para identificar padrões, erros e acertos. A pesquisa detalhada sobre as equipes, incluindo suas posições, estilos de jogo, formações preferidas e reações dos jogadores, é fundamental. “Você está trabalhando sob pressão o tempo todo… tentando identificar pistas e informações que me ajudem a tomar as decisões certas. O cérebro está constantemente girando”, afirma.

A colaboração em grupo, seja em acampamentos ou online, é crucial. “Há sempre um elemento de vulnerabilidade envolvido nisso”, admite Heaslip. A capacidade de analisar erros, não apenas os próprios, mas os dos colegas, é vista como um benefício para o aprimoramento coletivo. O segredo é “estacionar e seguir em frente”.

Lidando com Críticas e Abuso Online

A experiência de Heaslip também envolve lidar com a pressão e o abuso, especialmente nas redes sociais. Um incidente notório ocorreu quando ela aplicou um segundo cartão amarelo por perda de tempo em Alex Greenwood, 38 minutos antes do fim de um jogo entre Manchester City e Chelsea em 2023. O lance gerou intensa repercussão na mídia e nas redes sociais.

“A quantidade de pessoas que me procuraram naquele momento foi bastante alarmante”, relata Heaslip. Mesmo com um controle sobre suas interações online, o escrutínio Público encontrou uma forma de alcançá-la. “A única plataforma em que estou, que não destaca a crítica, ainda aparece e me atinge em cheio”, lamenta.

Heaslip reforça que as decisões, como a aplicada a Greenwood, são tomadas com base em orientações e contexto, mas que a reação pública muitas vezes ignora o fator humano. “O que as pessoas parecem não perceber é que existe um contexto por trás de decisões como essa e uma orientação que recebemos, mas elas reagem e esquecem que um ser humano está envolvido.”

Para gerenciar a pressão, o departamento de psicologia esportiva da organização de árbitros tem sido fundamental, oferecendo suporte e recursos para lidar com essas situações.

A Natureza Subjetiva do Jogo e a Ausência de Viés

Heaslip também aborda a subjetividade inerente às decisões de arbitragem. “É um esporte de opinião”, declara. Ela acredita que essa característica é saudável e une as pessoas, gerando debates. Sobre acusações de viés, ela é categórica: “Nenhum árbitro é tendencioso. Simplesmente não acontece.”

Segundo ela, o cérebro do árbitro opera em alta velocidade, focado em analisar o movimento das pernas, a trajetória da bola e a ocorrência de uma falta, sem capacidade para processar vieses. “Estou apenas olhando para onde a perna vai, para onde a bola vai e se é uma falta ou não.”

O principal escape de Heaslip para equilibrar a vida dedicada ao futebol é caminhar com seu cachorro. Essa atividade a lembra que “há mais na vida do que pessoas correndo em um pedaço de grama, chutando a bola e soprando um apito”. Ela conclui enfatizando que os torcedores precisam entender que os erros não são intencionais e que a unidade e o aprendizado são constantes na jornada de um árbitro.

Fonte: The Guardian

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