Deulofeu e a luta épica: "Talvez a recuperação mais difícil da história"

A rotina de Gerard Deulofeu começa cedo, com treinos intensos e focados na reabilitação. Quase 33 meses após sua última partida oficial, o jogador do Udinese trava uma batalha contra uma Lesão devastadora, buscando um retorno que ele mesmo descreve como o mais difícil de sua carreira. Ele compartilha os desafios diários e a esperança de superar todos os obstáculos para voltar a jogar.

A Longa Jornada Pós-Lesão

No centro de treinamento do Udinese, longe dos holofotes e do burburinho das arquibancadas, Deulofeu dedica suas manhãs a sessões rigorosas de fisioterapia. Slogans motivacionais adornam as paredes, lembrando-o constantemente da necessidade de trabalho árduo. “Hard work beats talent, when talent chooses not to work hard”, ecoa uma das frases, um lema que o jogador parece seguir à risca. Ao lado de Angel Aceña, preparador físico do clube, Deulofeu avança dia após dia, com o monitor exibindo as métricas de progresso.

O jogador de 31 anos revela a intensidade de sua recuperação: “Eu sei que estou tentando algo especial. Talvez seja a recuperação mais difícil da história. Se eu conseguir voltar, serão mais de 1.000 dias. Mas sou um cara que se cuida e acho que consigo fazer isso. Se há alguém que pode fazer isso, sou eu.” A cada sessão, ele confere as anotações de otimismo, alimentando a esperança.

Gerard Deulofeu em sessão de treinamento para reabilitação — Deulofeu focado em sua rotina de reabilitação no centro de treinamento.

O Diagnóstico e a Infecção

A Lesão que o tirou dos gramados ocorreu em 22 de janeiro de 2023, em uma partida contra a Sampdoria. Inicialmente, um rompimento do ligamento cruzado anterior (LCA) parecia gerenciável, especialmente após um período de recuperação. No entanto, durante a cirurgia em Roma, uma infecção complicou drasticamente o quadro. “Não é como uma lesão comum”, explica Deulofeu. “A infecção piorou a cada mês, destruindo minha cartilagem e limitando os movimentos do meu joelho a osso contra osso.”

A cartilagem sofreu deterioração contínua, resultando na perda de massa muscular e na dificuldade de flexionar o joelho. A perspectiva para sua mobilidade a longo prazo era sombria, mesmo sem considerar o Futebol.

Raio-X de joelho mostrando a gravidade da lesão de Deulofeu — Detalhe da lesão que assola o joelho do jogador.

Novas Terapias e a Esperança de Retorno

A esperança para a carreira de Deulofeu passou a residir no tratamento celular, que envolve o transplante de células de cartilagem saudável para a área danificada. A cirurgia foi realizada em Barcelona, onde o jogador iniciou sua trajetória nas categorias de base do clube. Apesar dos avisos médicos sobre as incertezas, Deulofeu abraçou a única chance que lhe restava. Nove meses após a lesão, em meados de 2023, ele começou a sentir-se apto a correr, mas o esforço precoce o forçou a interromper novamente.

Ele estima que a cartilagem esteja 90% recuperada, mas o foco agora é fortalecer o joelho para minimizar riscos de novas Lesões. “Preciso ser capaz de treinar todos os dias, não um dia sim e outro não”, afirma. Seu contrato com o Udinese foi encerrado em janeiro, mas o clube concordou em apoiar sua recuperação, mantendo a porta aberta para um possível retorno. “Eles estão me esperando”, diz Deulofeu, grato pelo tempo e apoio oferecidos.

Gerard Deulofeu em campo pelo Udinese — O jogador relembra seus bons momentos na Série A pela equipe italiana.

O Apoio Familiar e a Motivação Pessoal

Apesar da jornada solitária de recuperação, Deulofeu não se sente isolado. O apoio de sua esposa e filhos é um pilar fundamental. “Às vezes penso: ‘Oh Gerard, acaba logo, acaba porque você já fez uma boa carreira e tem uma família.’ Mas se eu digo à minha esposa que é muito difícil e não acho que vou voltar, ela diz: ‘Vamos tentar, você vai conseguir’.” Essa força positiva o impulsiona a continuar.

Ele também reflete sobre a magnitude de sua carreira, que inclui passagens por clubes como Barcelona, Everton, Sevilla e Milan, além de participações em competições de alto nível. “Para ser honesto, eu já fiz uma carreira muito boa e tenho uma família”, admite, mas o desejo de voltar a competir fala mais alto. “Só quero tentar.”

Deulofeu limita sua presença em jogos para evitar sobrecargas, mesmo subir escadas ainda sendo um desafio. Contudo, ele faz questão de levar o filho mais novo aos jogos, respondendo à pergunta constante: “Quando você volta?” A expectativa de retornar e ver o estádio lotado novamente, proporcionando uma “festa” para a cidade e para o clube, é um dos grandes motivadores.

A resiliência do jogador é notável, inspirada por exemplos como o de Santi Cazorla, que também superou lesões graves. Deulofeu aprendeu a “ouvir” seu corpo e a gerenciar seu estado emocional. Ele sabe que o resultado final ainda é incerto, mas a dedicação diária e o apoio incondicional o mantêm focado em seu objetivo de fazer história com o Udinese.

Fonte: The Guardian