O futebol brasileiro está passando por uma profunda revolução impulsionada pela análise de dados. O que antes era dominado pela figura centralizadora do cartola, hoje se expande para departamentos com dezenas de profissionais, incluindo cientistas de dados. Essa crescente influência da matemática no dia a dia dos clubes de elite no Brasil marca uma nova era para o setor de Analytics.
Os dados se tornaram rotina para 11 times da Série A, auxiliando em áreas como fisiologia, análise tática, preparação de adversários e, crucialmente, no mercado de transferências. A busca por reforços, cada vez mais competitiva globalmente, é facilitada por esse setor, que desenvolve bases de dados para monitorar potenciais talentos e facilitar a busca por jogadores.
O Analytics, ou inteligência analítica, visa minimizar erros e otimizar o tempo, fornecendo diretrizes claras baseadas em estatísticas. Embora a decisão final permaneça com a diretoria, a área de dados oferece ferramentas poderosas para embasar essas escolhas.
O Analytics no futebol brasileiro ganhou força a partir de 2020. O Fluminense foi pioneiro ao ter um profissional dedicado a dados, com Pedro Pereira atuando desde 2014. O Atlético-MG, em 2021, inovou ao criar o primeiro departamento exclusivo de dados do país.
Para muitos profissionais, a pandemia foi um ponto de virada. Hugo Rios Neto, hoje Gerente de Analytics no Orlando City, formou-se em matemática computacional e encontrou no esporte uma carreira promissora. Ele relata que o interesse em aplicar seus conhecimentos em Analytics no futebol surgiu como um “clique” após descobrir a possibilidade de unir suas paixões.
Um tutorial sobre uso de dados no futebol, criado pelo inglês David Sumpter em seu canal no YouTube durante a pandemia, foi fundamental. O material, que contou com a participação de especialistas de Harvard e do Manchester City, ensinou como aplicar métodos e códigos matemáticos ao esporte, inspirando muitos brasileiros a ingressar na área.
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A colaboração entre entusiastas pela área, muitos reunidos a partir do canal de Sumpter, impulsionou um movimento significativo no futebol nacional. A troca de conhecimentos e a criação de blogs para explicar conceitos de forma acessível ajudaram a disseminar a cultura de dados.
Montagem do departamento no Atlético-MG: dia a dia e impacto
Em 2021, o Atlético-MG lançou seu Centro de Informação, o CIGA. Com a chegada de Rodrigo Caetano e Alessandro Brito, o departamento, antes focado apenas em mercado, foi expandido. Rodrigo Pichioni, que atuou no Bragantino, foi contratado e chamou Hugo Rios para se juntar à equipe como cientista de dados.
Inicialmente, o departamento contava com três pessoas, com foco principal na análise de mercado e scout. O objetivo era dar suporte à tomada de decisão na montagem do elenco, área onde o Analytics demonstra o maior impacto.
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O trabalho envolvia o desenvolvimento de métricas e indicadores de interesse do clube, com a automação de processos para otimizar o dia a dia e a segurança nas decisões de mercado. A equipe facilitava para os analistas de mercado a identificação de jogos e jogadores.
A análise de dados atua como um complemento ao trabalho humano. Hugo Rios ressalta que os dados não respondem a todas as perguntas e que opiniões podem divergir, o que é considerado saudável. O contexto de um jogador em campo, por exemplo, nem sempre é totalmente capturado pela métrica.
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A decisão final é de quem?
Segundo Hugo Rios, a decisão final sobre contratações não recai exclusivamente sobre o departamento de analytics. Ela é fruto da junção de diversos fatores. Ele cita que na Inglaterra, alguns clubes já processam quase todo o trabalho de forma quantitativa.
https://www.youtube.com/watch?v=13140329
Presença em outras divisões
O crescimento do setor de dados não se restringe à Série A. Clubes da Série B também estão investindo, como o Coritiba. O projeto Coxa Analytics conta com três profissionais que dão suporte a diversas áreas, incluindo scout, comissão técnica, comunicação, performance, saúde e logística.
Felipe Trincate, gerente do setor, explica que o departamento funciona como uma base de informação e conhecimento, servindo a diferentes demandas internas. Ele afirma que é um caminho sem volta, com clubes cada vez mais abertos a novas tecnologias aplicadas ao futebol, visando potencializar a tomada de decisões e reduzir a margem de erro.
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Fonte: Globo Esporte