Palmeiras driblou São Paulo para contratar Cafu usando o Juventude

Entenda como o Palmeiras usou o Juventude em 1995 para driblar o São Paulo e contratar o lateral Cafu, em uma negociação complexa e histórica.
Palmeiras contratar Cafu — foto ilustrativa Palmeiras contratar Cafu — foto ilustrativa

Adversários neste sábado, às 19h (de Brasília) no Allianz Parque, Palmeiras e Juventude protagonizaram uma negociação que marcou o futebol brasileiro na década de 90: a transferência de Cafu do time gaúcho para o Verdão. Um negócio que serviu para driblar o São Paulo, clube em que o lateral-direito fez história.

30 anos do chapéu: como o Juventude ajudou o Palmeiras a tirar Cafu do São Paulo

O caso aconteceu há 30 anos, em 1995. Em janeiro daquele ano, Cafu fora vendido pelo São Paulo para o Zaragoza, da Espanha, por 3,6 milhões de dólares.

Apresentação de Cafu como reforço do Juventude em 1995 — Foto: Divulgação/E.C Juventude

O lateral-direito atuou pela equipe entre 1989 e 1994 e participou de títulos como o bicampeonato da Libertadores e do Mundial em 1992 e 1993.

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O desempenho fez com que ele se transformasse em um sonho para o Palmeiras, que em 1992 passou a ter seu departamento de futebol gerido pela Parmalat, também cogestora do Juventude. Foi o início de uma era multicampeã do Verdão paulista, com altos investimentos.

“A gente sabia que se fosse comprar direto do São Paulo, não venderia, porque era um astro deles. Ele estava sendo negociado com um time espanhol e fiz uma ponta para comprar uma parte pelo clube espanhol, compraríamos em conjunto”, relatou José Carlos Brunoro, executivo de futebol do Palmeiras na era Parmalat, ao ge.

O São Paulo, desconfiado do risco de o rival contratar Cafu, decidiu colocar uma cláusula ao vendê-lo ao Zaragoza. Uma transferência para o Palmeiras, até o início de 1996, só aconteceria mediante o pagamento de uma multa ao clube também de 3,6 milhões de dólares. A passagem curta pelo Juventude foi planejada para burlar esta cláusula.

“Eu fui para o Zaragoza na intenção de ficar quatro anos, fiz um contrato de seis meses com extensão de quatro anos, para caso não me adaptasse. E acabei não me adaptando mesmo. Só que no meu contrato tinha uma cláusula que eu não poderia voltar para o Palmeiras. Específica”, relembrou Cafu, ao ge.

Cafu durante sua passagem pelo Palmeiras — Foto: Luiz Paulo Lima / Agência Estado

“O Brunoro falou comigo, estava no Zaragoza, mas ele me queria na Parmalat de todo jeito. Antes de eu ir, tinha falado que o sonho do presidente era ter você no Palmeiras. Eles foram lá e falaram: ‘olha, existe a possibilidade de você voltar para o Brasil’. Eu falei: ‘mas eu não posso voltar para o Palmeiras‘. Não. Mas você pode voltar para o Juventude.

Seis meses depois da transferência para o Zaragoza, Cafu estava de volta ao futebol brasileiro. No início de julho, acertou com o Juventude. Só que depois de dois jogos pelo clube gaúcho e uma passagem de apenas 20 dias, o lateral-direito faria sua estreia pelo Palmeiras, contra o Grêmio, na Conmebol Libertadores.

“Fiquei no Juventude um mês, um frio lá, levei até meu filho. Falei para ele: ‘o pai só vai ficar lá um mês, você fica comigo e depois vamos voltar para o Palmeiras‘. O Palmeiras foi lá, falou comigo e resolveu os contratos. Eu fui. Queriam que eu ficasse no Juventude disputando o campeonato inteiro. E o Palmeiras já ia disputar o jogo da Libertadores contra o Grêmio. Falei não, eu quero voltar para o Palmeiras, porque quero jogar contra o Grêmio.

“Engordei lá em Caxias, voltei de Caxias gigante. Comia Javali, polenta. Falava: ‘Meu Deus do céu, que cidade maravilhosa (risos)’. Um frio, vinho bom, polenta boa, javali bom, voltei de lá cinco quilos a mais. Volto para o Palmeiras e já tinha o jogo contra o Grêmio”, completou o ex-jogador.

Verdão multado “com o maior prazer”

Cafu logo em seu terceiro jogo, contra o Grêmio, fez dois gols na goleada por 5 a 1 que não impediu a eliminação palmeirense naquela Libertadores. Rapidamente, ele se tornou um dos principais jogadores do Verdão. O São Paulo, então, foi para a briga. O clube buscou a Fifa, por entender que o rival fez uma jogada para não pagar o estipulado na venda ao Zaragoza.

Segundo o pentacampeão mundial, o Verdão não se incomodou de depositar uma quantia à equipe tricolor.

“O São Paulo cobrou uma multa de um milhão (de dólares). Eu disse para o Brunoro, que falou: “pago com o maior prazer”.

A versão foi confirmada pelo ex-dirigente do Palmeiras.

José Carlos Brunoro — Foto: Divulgação/Coritiba

“Foi tudo pensado, uma estratégia armada direitinho, elaborada para vir ao Palmeiras sem problemas. Mas depois disso, o São Paulo entrou na Fifa. O seu João Havelange (presidente da entidade) me chamou para uma reunião. Marcamos uma reunião de 1h e ficamos 4h, 5h conversando, ele também tinha vindo do esporte olímpico, era nadador e eu do vôlei. No fim, falou que estava bacana, mas teria que dar uma multa (risos). Foi estrategicamente bem-sucedido, mas tem que pagar uma multa.

“Era nosso sonho ter o Cafu, então a gente pagou com o maior prazer, mesmo. Era uma situação bem legal para a gente, a multa não foi barata, mas fazia parte do contexto de ter um jogador do nível do Cafu”, contou Brunoro.

Responsável pela montagem dos elencos campeões do Palmeiras nos anos 1990, Brunoro diz que a negociação de Cafu foi a mais complexa daquela passagem pelo clube.

Depois de fazer história no São Paulo, o lateral-direito também marcou seu nome no Verdão. Foram 102 jogos entre 1995 e 1997, com 16 gols marcados. Ele fez parte do histórico time campeão paulista de 1996 antes de se transferir para a Roma, da Itália.

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Fonte: Globo Esporte

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