A saúde mental no esporte, antes um tabu, ganha cada vez mais espaço e discussão. Figuras como Andrés Iniesta, Ricky Rubio, Simone Biles e Michael Phelps têm sido fundamentais para dar visibilidade e normalizar o tema, que afeta toda a sociedade. Essa relação intrínseca entre esporte e bem-estar psicológico foi tema central de duas mesas redondas realizadas na Faculdade de Ciências da Informação da Universidade Complutense de Madrid (UCM). O evento, organizado pela plataforma de saúde mental OM Sports em parceria com a MediaCom UCM, a Associação da Imprensa Esportiva de Madrid e o Departamento de Jornalismo da UCM, atraiu mais de 250 pessoas.


Debate com estrelas e especialistas
A primeira mesa, mediada por Paco Grande, contou com a participação do judoca Fran Garrigós, medalhista nos Jogos de Paris; Vicente Martínez Orga, presidente da Federação Espanhola de Tiro com Arco e da UFEDEMA; Juan Ignacio Gallardo, diretor de Marca; Carmen Colino, editora-chefe do AS e vice-presidente da Associação da Imprensa Esportiva de Madrid; e a psicóloga clínica e esportiva Lucía Gili. As presenças mais aguardadas foram as do ex-técnico da seleção espanhola, Vicente del Bosque, e do ex-Goleiro Iker Casillas, ambos embaixadores da OM Sports.

Um dos grandes desafios para os atletas é a pressão. “Quando você se liberta dela e se concentra apenas no que depende de você, seu desempenho é máximo. A saúde mental deixou de ser um tabu”, afirmou Fran Garrigós. A psicóloga Lucía Gili destacou o papel da OM Sports em cuidar e acompanhar os deportistas, trabalhando motivação, emoções e atenção, com o entorno sendo um fator crucial. “Existem momentos em que todos nós caímos e nos levantamos, graças aos terapeutas. Os deportistas já os incluem como parte de seu trabalho, pois os ajudam a enfrentar momentos importantes”, ponderou Carmen Colino, ressaltando a importância de vincular a saúde mental ao esporte como um exemplo para a sociedade, segundo Gallardo.
O papel da formação e do ambiente
A necessidade de cuidar da Saúde Mental desde a infância foi um ponto enfatizado, com foco em pais e treinadores. Vicente del Bosque compartilhou sua experiência: “Tive a sorte de estar 17 anos à frente das categorias de base e via como o ambiente familiar e os técnicos podiam ser prejudiciais. É preciso ter bom senso. O esporte é para se formar e se divertir.” Del Bosque relacionou o universo do futebol ao “equilíbrio emocional”. Iker Casillas, ídolo para diversas gerações, comentou sobre a exposição constante à crítica e a importância de saber conviver com os erros, além de se deixar aconselhar. Ele relembrou a inspiração que teve em outro goleiro: “Eu sonhava em ser Arconada e ainda tremo quando falo com ele.” Casillas mencionou o impacto de sua carreira, dizendo que “muitas crianças se chamam Iker por minha causa”.

Superação, resiliência e a imprensa
A segunda mesa redonda, apresentada por Fernando Soria, contou com a judoca paralímpica Marta Arce, o jornalista Gaspar Díez, a repórter especial em esporte paralímpico Maite Martín e a psicóloga Lucía Gili. A ex-campeã mundial de boxe Miriam Gutiérrez e a Dra. Dina Mayé também participaram, com Mayé defendendo o esporte como “a melhor medicina”.
A frustração foi apontada como outro fator crítico na carreira dos atletas. “É preciso focar mais no desempenho do que no resultado”, ressaltou Marta Arce. Maite Martín trouxe um exemplo de superação: Loida Zabala, que competiu em Paris com câncer em estágio avançado, ensinando sobre superação e resiliência. “Eles nos ensinam superação, resiliência… valores”, afirmou Martín, destacando a responsabilidade social da imprensa esportiva, como mencionou Gaspar Díez.
Miriam Gutiérrez enfatizou a necessidade de apoio profissional para os atletas alcançarem seus objetivos e a importância do descanso. Vicente Martínez Orga levantou a questão da gestão da incerteza após a aposentadoria, criticando a pressão por sucesso que pode tornar os atletas obsoletos no mercado de trabalho. “O problema é que exigimos deles muitas horas de trabalho para serem campeões do mundo em esportes dos quais talvez não poderão viver posteriormente e, depois, quando chegam ao mercado, estão obsoletos. E isso nós os geramos exigindo tantos sucessos.”
Fonte: AS España