Árbitro FIFA revela exames médicos bizarros e humilhações na UEFA

Ex-árbitro FIFA Jonas Eriksson revela exames médicos humilhantes e pressões impostas pela UEFA em seu novo livro “House of cards”.
Árbitro FIFA revela exames UEFA — foto ilustrativa Árbitro FIFA revela exames UEFA — foto ilustrativa

O ex-árbitro Fifa Jonas Eriksson, que atuou na Copa do Mundo de 2014 e apitou a final da Liga Europa de 2016, revelou detalhes surpreendentes sobre os procedimentos e exigências impostas pela UEFA em seu livro “House of cards”. Eriksson, que apitou jogos entre 2002 e 2018, aborda o “jogo sujo por trás do jogo” e compartilha experiências marcantes de sua carreira.

Em um trecho publicado pelo The Guardian, o sueco detalha os rigorosos controles de peso, medições de gordura corporal e testes de visão implementados pela organização arbitral a partir do verão de 2010, quando a UEFA assumiu o controle. “Não bastava ser um bom árbitro, era preciso priorizar a dieta, ter a aparência de um árbitro de alto nível, com os percentuais de peso e gordura corretos, caso contrário, você corria o risco de ser repreendido, ter menos jogos e ficar no gelo”, confessa Eriksson.

Eriksson descreve casos extraordinários descobertos durante os exames médicos.

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Ex-árbitro Jonas Eriksson revela detalhes de sua carreira em livro.

Durante os exames médicos, surgiram casos incomuns entre os árbitros de elite europeus. “Descobriu-se que alguns árbitros eram daltônicos. Outro descobriu que era cego de um olho e foi forçado a desistir. Pelo menos foi o que disseram os rumores, mas ninguém sabia com certeza, pois não foi revelado nada sobre os resultados dos testes de visão em grupos maiores”, revela o ex-árbitro.

Os exames de peso e a humilhação imposta por Collina

Um dos momentos mais desagradáveis para Eriksson era a hora dos testes de peso. “Senti principalmente desgosto, raiva e humilhação. O problema não eram os testes em si, mas a forma como eram conduzidos”, recorda. No outono de 2010, durante o curso anual da UEFA em Ljubljana, os árbitros eram divididos em três grupos de cerca de 15 integrantes. “Quando meu grupo entrou na sala de conferências grande e fria onde íamos nos reunir, a gerência nos instruiu a nos despirmos até ficarmos apenas de roupa íntima. Olhamos uns para os outros, mas ninguém reagiu nem ousou dizer nada”, descreve em seu livro.

Apesar de serem os melhores árbitros da Europa, nenhum se atreveu a protestar. Em fila indiana, apenas de cueca, com pouca troca de olhares, a tensão era palpável. “Ali, (Pierluigi) Collina nos observou de cima a baixo com um olhar gélido. Silencioso e observador”, escreve. Um por um, subiam na balança enquanto um instrutor anunciava em voz alta o nome, a nacionalidade e o peso. “Eriksson, Suécia, 96,2 quilos”. Logo depois, o diretor de Arbitragem da UEFA o examinava. “Senti Collina parar, me olhar e escanear meu corpo quase nu. Pensei comigo mesmo: isso não vale a pena. Sou um adulto e sou forçado a ficar aqui para ser examinado e julgado”, lamenta.

O peso da carreira e a busca pela profissionalização

Eriksson questiona por que ele ou qualquer outro árbitro não se manifestou: “Por que não nos levantamos e dissemos o que todos pensavam: que era degradante?”. A resposta, ele a encontra na pressão inerente à profissão: “Eu teria assinado simultaneamente a sentença de morte da minha carreira”. O sueco reconhece a necessidade de um árbitro de classe mundial estar em forma e que o corpo arbitral precisava de profissionalização. “O erro foi tentar chegar lá através de uma pesagem humilhante e uma agenda em que o mais importante era perder peso e minimizar seu percentual de gordura”, explica.

Os dois cursos anuais seguintes com a UEFA seguiram o mesmo padrão. Collina, com seu olhar penetrante, criticava os maus exemplos de árbitros que não se preparavam profissionalmente nem seguiam uma dieta, fixando o olhar naqueles que não tinham coragem de encará-lo. A situação era comparada a “colegiais assustados diante de um diretor irritado e severo que acabara de pegar os alunos fazendo algo estúpido”.

A sensação de estar sob constante monitoramento era desconfortável. Doces e álcool foram banidos, e qualquer bolo restante raramente era tocado. Nos cursos, árbitros que haviam perdido peso eram destacados como exemplos positivos, em vez de serem elogiados por suas decisões em campo.

Fonte: Marca

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