Um ex-árbitro da Fifa compartilhou detalhes sobre os rigorosos e, segundo ele, humilhantes testes físicos impostos pela Uefa durante sua carreira. As avaliações, que incluíam medições de peso e percentual de gordura corporal, eram conduzidas sob o olhar atento de Pierluigi Collina, então chefe da organização de Arbitragem. A introdução dessas novas regras em 2010 marcou uma mudança significativa na forma como os árbitros eram avaliados, indo além das habilidades em campo.






Testes Físicos e o Impacto Psicológico
O árbitro, que atuou entre 2002 e 2018 e apitou jogos da Copa do Mundo de 2014 e da final da Liga Europa de 2016, descreve o desconforto e a sensação de indignidade ao ser submetido a avaliações físicas extremas. Os testes exigiam que os árbitros estivessem em jejum e o mais leves possível, com baixo percentual de gordura, para se adequar ao modelo idealizado pela Uefa. A prática incluía despir-se até a roupa íntima e ser medido com um adipômetro, enquanto Collina observava “com um olhar gelado”.
“Ali estávamos em uma longa fila, apenas de roupa íntima. Éramos os melhores árbitros da Europa, atletas de elite, modelos, adultos, pais, personalidades fortes com grande integridade… mas ninguém disse nada”, relatou o ex-árbitro sobre o procedimento em Liubliana, Eslovênia, em 2010. Ele confessou que, apesar de desejar atingir um alto nível físico, a maneira como os testes eram conduzidos causava “nojo, raiva e humilhação”.

Consequências e o Medo de Reprimendas
O medo de prejudicar a carreira era um fator determinante para a submissão dos árbitros a tais procedimentos. Questionar os métodos de Collina significaria, na visão deles, o fim da carreira, com o risco de receber menos jogos ou ser afastado. Os resultados dos testes de visão, que identificaram casos de daltonismo e até cegueira em um olho, eram vistos como um sinal de profissionalismo, mas as avaliações de peso e gordura eram fonte de grande constrangimento.
As avaliações físicas, incluindo testes de corrida e exames de regras, tornaram-se padrão nos cursos anuais da Uefa. Os resultados eram categorizados, e quem não alcançava os níveis “excelente” ou “muito bom” corria o risco de ser repreendido. O relato revela como a pressão pela forma física se tornou mais importante do que o desempenho em campo, levando a uma “histeria de peso” entre alguns colegas e a competições sobre quem tinha o menor percentual de gordura.

Mudanças na Rotina e Dieta
A nova política da Uefa também impactou a rotina alimentar e de comportamento dos árbitros. Histórias sobre a dieta dos árbitros, incluindo o consumo de ostras e carbonara, tornaram-se piada interna, evidenciando a sensação de vigilância constante. Doces foram retirados dos cursos, substituídos por frutas, e o consumo de álcool foi reduzido drasticamente. O foco passou a ser elogiar árbitros que perdiam peso e reduziam a gordura corporal, em vez de reconhecer suas decisões em campo ou Atuações em jogos difíceis.
A Uefa, sob a liderança de Collina, buscou profissionalizar a Arbitragem de elite. Embora a importância de um bom condicionamento físico seja inegável para a performance no futebol, os métodos empregados geraram controvérsia e desconforto entre os profissionais. A experiência vivida pelo ex-árbitro, publicada em seu livro, lança luz sobre os desafios psicológicos e a pressão que muitos árbitros enfrentaram para se manterem no topo.

Fonte: The Guardian