Viver no limite define o instinto de Kylian Mbappé. É o seu território, o espaço onde seu futebol ganha um sentido explosivo e se torna quase imparável. Essa margem mínima entre a bandeirinha de escanteio que sobe e a celebração de um Gol. No próximo Clássico, ele voltará a transitar essa linha vermelha que outros evitam e ele necessita.
A armadilha do impedimento faz parte da identidade de Hansi Flick. Um treinador que não entende a defesa sem que ela implique um risco alarmante. Em seu esquema, o passo para trás não existe. Essa convicção levou o Barcelona a defender, em média, a 39,9 metros de sua meta, a linha mais adiantada da Liga.
A temporada atual o impulsionou ainda mais. São 2,2 metros acima da temporada passada, quando já se posicionava muito à frente da média do campeonato. Pode parecer uma variação mínima, mas em um sistema que vive de precisão, dois metros mudam a fisionomia da equipe. Cada passo adiante amplia o risco atrás. Para Flick, aí reside a essência de sua retaguarda: viver em tensão permanente e obrigar o rival a decidir antes do tempo.
Diante dele, Mbappé representa o oposto. Onde o Barcelona busca ordem, ele encontra o caos. Vive daquele instante em que a defesa avança e o passe já saiu da chuteira. Em seu primeiro Clássico, caiu repetidamente na armadilha: 12 impedimentos, oito dele, e um gol anulado no 0-4 do Bernabéu. Foi a estreia oficial de Flick no comando de um duelo assim e o primeiro aviso de que a velocidade do francês poderia se voltar contra ele.
Desde então, cada confronto foi uma correção. O segundo terminou com apenas um impedimento; o terceiro, com sete; e o quarto, com cinco e um hat-trick dele. Em todas as partidas, o Real Madrid perdeu, mas a narrativa mudou. Mbappé começou a entender como se mover dentro do limite sem cair na armadilha do técnico alemão.
O Barcelona, especialista na marcação
Os números reforçam a sensação. O Barcelona provoca 4,89 impedimentos a cada 90 minutos, o registro mais alto da Liga. Seu sistema vive dessa precisão, confiando que o instante do passe jogue a seu favor. O Madrid, em contrapartida, aprendeu a conviver com essa pressão. Passou de 2,24 para 1,56 impedimentos por partida nesta temporada, uma queda que retrata uma mudança de ideia.
Parte dessa variação se explica pela pressão alta de Xabi Alonso, que empurra o rival para seu próprio campo e reduz os espaços nas costas da zaga. No novo contexto, Mbappé continua sendo a medida. Dos 19 impedimentos da equipe em 12 partidas, 11 são dele.
E ainda assim, o Barcelona nunca conseguiu neutralizá-lo completamente. Mbappé marcou 11 gols em 8 jogos contra o clube catalão ao longo de sua carreira. Seis com o PSG e cinco com o Real Madrid, incluindo seu primeiro gol de falta direta como profissional. Cada confronto deixou uma marca no jogador francês, mesmo nas derrotas. Sua relação com o Barcelona é um desafio constante. No domingo, essa linha vermelha estará traçada novamente. O Barcelona subirá sua defesa ao limite do abismo e Mbappé esperará do outro lado, pronto para cruzá-la.
Fonte: Marca