O Mjällby está em Festa. O pequeno vilarejo de aproximadamente 1.500 habitantes comemorou o inédito título do Campeonato Sueco. O modesto time local, que carrega o nome da vila de pescadores localizada à beira do Mar Báltico, no sul do país, venceu o Goteborg por 2 a 0, fora de casa, e garantiu a conquista histórica, com três rodadas de antecedência.
Com a conquista inédita, o Mjällby se classificou à fase preliminar da Liga dos Campeões da Uefa na próxima temporada, marcando a primeira participação do clube em uma competição Internacional.
O clube sueco tem apenas uma derrota na campanha, com 17 gols sofridos em 27 jogos. A Vitória que selou o título levou o time aos 66 pontos, 11 à frente do vice-líder Hammarby, com nove ainda em disputa.
A vila sede do Mjällby é um lugar simples, distante dos grandes centros e vive da pesca e da agricultura. O local faz parte do município de Sölvesborg. A área é tão pequena que não cabe o Estádio do líder do torneio nacional; o time manda seus jogos na vizinha Hällevik, no estádio Strandvallen.
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A capacidade do estádio é para 7.500 pessoas, cinco vezes mais do que os moradores da vila Mjällby. Entretanto, a média de Público é de 5 mil torcedores por jogo, já que a história do clube contagiou as regiões próximas.
Do interior, com orgulho
O Mjällby sabe que é difícil concorrer com os adversários no cenário sueco, seja pela tradição ou pelo potencial financeiro de clubes como o Malmö ou Hammarby. O primeiro venceu oito dos últimos 12 títulos na Suécia, enquanto o outro tem Zlatan Ibrahimović como investidor. A ideia do clube modesto é se diferenciar pelo orgulho de sua identidade.
“Há um ditado aqui que diz que somos primos do interior, talvez as pessoas tenham nos subestimado por alguns anos. Mas agora posso dizer com certeza que todos estão realmente impressionados com os primos. Prezamos pela mentalidade de Davi contra Golias. Somos um bom time, mas ainda somos um clube e uma região muito pequenos, e temos orgulho disso”, exaltou o Técnico do time, Anders Torstensson.
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Reconstrução por muitas mãos
Fundado em 1939, o Mjällby viveu por anos na sombra do futebol sueco entre subidas e quedas de divisões. E por anos flertou com o futebol semiprofissional, tendo jogadores que se dividiam entre o campo e outros empregos.
A situação ficou grave em 2016. O clube tinha acabado de cair para a Terceira Divisão, o que gerou uma grave crise financeira. O primeiro herói dessa história de reconstrução foi Hasse Larsson, ex-jogador e ex-treinador do time. Aos 53 anos, ele assumiu o cargo de diretor esportivo e deu início ao projeto que reergueu o Mjällby.
Larsson conta que trabalhou por três anos sem receber nenhuma remuneração, porque o clube não tinha condições. O recomeço do zero uniu forças com as pessoas da região e se concentrou, inicialmente, em fazer o clube voltar a ter receita. Nessa mesma época, Magnus Emeus, um empresário local, assumiu a presidência do clube e usou sua experiência como gestor para organizar as finanças e reduzir os gastos do Mjällby.
“Digo sempre que temos de ser melhores nas coisas gratuitas. Podemos ter um espírito de equipe melhor que o Real Madrid, nos preparar para um jogo melhor que o Manchester United”, disse Magnus Emeus.
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O clube passou a investir em scouting e focar em contratar jogadores em fim de contrato e talentos subestimados, especialmente da Escandinávia. Outra prioridade é ter atletas jovens, com foco no desenvolvimento para venda – a média de idade do elenco é abaixo dos 25 anos.
Em 2016/17, o Mjällby ficou perto de ser rebaixado novamente, mas resistiu e viu o plano funcionar na sequência. Na temporada seguinte, voltou à Segunda Divisão e venceu a competição em 2019, levando o segundo título dela para casa, junto com o de 2009.
Da escola para o campo
Em 2023, o Mjällby recebeu mais um reforço caseiro. Anders Torstensson foi contratado para ser treinador de um clube que ele conhece bem. O sueco de 59 anos também foi jogador na década de 1980, mas deixou o profissional para entrar para o exército. Retornou ao clube pela primeira vez em 2007, como auxiliar.
Torstensson rodou por algumas equipes na área técnica, incluindo o próprio Mjällby, mas sempre vivendo a vida dupla entre o futebol e o trabalho formal. Diretor de uma escola, ele já havia deixado a função para se concentrar nos gramados e chegou a salvar o time de um rebaixamento em 2021, mas precisou voltar atrás pela falta de estabilidade do clube.
Há dois anos, quando o time já estava estável e na Primeira Divisão, Anders recebeu o convite para fazer parte do projeto e largou de vez as salas de aula.
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“Eu disse: ‘Não sou o melhor instrutor, nem o melhor treinador, nem o melhor taticamente’. E eles responderam: ‘É, mais ou menos, mas não nos importamos, porque vocês ganham jogos’. Se eu recusasse, minhas perspectivas no futebol estariam perdidas. Eu amava meu outro trabalho, mas parecia que era agora ou nunca”, contou Torstensson.
O espírito familiar do Mjällby também abraçou Anders durante os momentos difíceis. O técnico superou um tumor cerebral e um câncer de próstata nos últimos anos. Em agosto do ano passado, foi diagnosticado com leucemia linfocítica crônica e precisou se afastar por alguns períodos. A única certeza para ele era a vontade de voltar.
“Foi um momento difícil, mas eu estava 100% decidido a voltar para minha família e para o futebol, as duas coisas que mais amo”, disse.
Fonte: Globo Esporte